sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

“O Triunfo da Revolta”


Costumamos ouvir uns e outros, dentro e fora da Instituição PSP, com discursos politicamente correctos, discursos que normalmente são bem recebidos por um lado e pelo outro, o que leva por vezes à incoerência.

Até eu, que sou um Zé de fraca formação e de família humilde, sei que mais tarde ou mais cedo não se consegue estar ao mesmo tempo de bem com Deus e com o Diabo, aqui é só mesmo uma questão de tempo.

Eu que me considero homem de bom senso, compreensivo e exageradamente paciente, fico extremamente consternado quando essas “minhas qualidades” são aproveitadas para tricotar estratégias como se se rodopiasse à volta de um asno.

O facto que me preocupa não é a comparação ao animal, o qual prezo bastante, mas sim o reflexo que a comparação pode vir a ter, até mesmo de um asno.
O pior que pode suceder a uma Instituição é alguém criar um campo de batalha sem intenção de ir batalhar, questionar e não querer resposta, é exigir sem querer que se cumpra, é saber dos problemas e continuar a alimentá-los, é ter a solução nas mãos e escondê-la atrás das costas…

Estes são simplesmente os condimentos necessários para se criar uma bomba relógio, na qual também o tempo é a questão fulcral.

Criaram-se organizações classistas com objectivos de sacudir os de outro ofício, deu-se esperança, aumentou-se a confiança, mas o teatro parece-me embicar na mensagem de um pequeno mas célebre romance de George Orwell ( “T.P.”).
Nesse romance (uma alegoria), o resultado inicial conquistado através da revolta é a de grandes ideias, intenções e nobres valores, mas pouco tempo depois, termina praticamente como tudo começou.

Os principais actores da revolta acabam por se servir e favorecer os mais fortes, começa por se impor o medo e a opressão que rapidamente se sobrepõem ao bom senso e inteligência, multiplicam-se as cerimónias, estimula-se a ignorância para controlar, ou seja, violam-se todos os princípios a que se tinham proposto.
Apesar de não ser adepto de revoltas, reconheço que só uma revolta pode terminar o resultado da anterior.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A moralidade dos imorais

Almeida Santos para Director Nacional da PSP… Já!

«Não se paga aos deputados o suficiente para que sejam todos apenas profissionais. Quanto às justificações para as faltas, é verdade que a sexta-feira é, em si própria uma justificação, porque é véspera de fim-de-semana. Eu compreendo isso. Talvez esteja errado que as votações sejam à sexta-feira. Não julguemos também que ser deputado é uma escravatura, porque não é, nem pode ser. É preciso é arranjar horas para a votação que não sejam as horas em que normalmente seja mais difícil e mais penoso estar na Assembleia da República».
(Almeida Santos e as faltas dos deputados)

Ser deputado é sem dúvida uma vida cheia de stress e por isso desgastante, as correrias, os estudos e projectos a apresentar sobre as diversas matérias, as comissões, as reuniões com as diversas entidades e os debates na AR, ocupam o dia-a-dia dos deputados. Nós compreendemos. O que não compreendemos é este argumento de um político que desempenhou cargos de relevância também na AR, para tentar explicar as faltas dos deputados.
O que o povo não compreende é que os deputados não desempenhem as suas responsabilidades, que exercem voluntariamente.

O que o povo não compreende é o porquê de todos os trabalhadores deste País serem obrigados a cumprir e assumir todas as suas responsabilidades, caso contrário são punidos disciplinarmente.

Quantos polícias são punidos disciplinarmente, com redução do seu vencimento ou com avaliações insuficientes, por bem menos?

Aquilo a que temos assistido, vindo de todos os quadrantes da nossa mais célebre elite, é uma venda constante da moral, denegrindo quantas vezes todos os trabalhadores da função pública, chamando-os à razão pela sua deficiente formação, pela falta de profissionalismo, ou mesmo pelo absentismo.

Até na PSP já se tenta descridibilizar o sindicalismo pelos abusos na utilização dos créditos sindicais por parte dos dirigentes ou delegados. Também eu sou da opinião que os créditos sindicais devem servir a desenvolver a actividade sindical e é reprovável a sua utilização em proveito próprio, mas depois desta e de outras situações que moral se pode ter para sensibilizar os menos cuidadosos nessa utilização?

Mas fazendo uma comparação, simplista, entre o deputado e o profissional de polícia, segundo a argumentação de Almeida Santos vamos encontrar várias semelhanças, senão vejamos:

- Não se paga suficientemente aos deputados para que sejam todos apenas profissionais, o mesmo acontece, com maior gravidade, com os profissionais de polícia;

- Sexta-feira é por si só uma justificação para faltar, na PSP também existem sextas-feiras, assim como todos os outros dias da semana;

- Talvez esteja errado fazer votações à sexta-feira, ou seja (no caso PSP), talvez esteja errado estar escalado para fazer serviço à sexta-feira, porque como acontece com os deputados, ser polícia não é (aqui prevalece a dúvida no caso PSP) nem pode ser uma escravatura;

- (proposta de A.Santos) O que é necessário é arranjar horas para votação que não sejam as mais difíceis ou penosas para estar na AR.

(proposta adaptada à PSP) - pessoal vamos todos embora, a PSP aguardará todos os profissionais, todos os meses, no dia 21 às 10h00 para entrega do recibo de vencimento.

Mas chegamos assim rapidamente à conclusão que afinal, nós os de poucas habilitações, os de parcos recursos, os denominados de povinho, somos afinal os únicos que ainda tem valores que ultrapassam os interesses pessoais e que ainda vamos zelando por um País que está saturado de moralistas.