sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

"O tradicional reconhecimento"



Já não é novidade falar-se de instabilidade nas relações interpessoais e do mau ambiente entre o efectivo da PSP em alguns Comandos ou Unidades de Polícia. As dificuldades financeiras, o stress da profissão, a falta de condições de trabalho, os direitos perdidos e as injustiças constantes tem aumentado consideravelmente o mau estar.


Quantas vezes apelamos ao bom senso dos colegas de trabalho e especialmente dos superiores hierárquicos, para a necessidade urgente de criar ou contribuírem para um ambiente estável e equilibrado nos locais de serviço. Mas, a importância de reconhecer o trabalho, sacrifício e até o risco de vida em prol da segurança dos cidadãos, aos profissionais, por parte da hierarquia, é de alguma forma contrariar o mau ambiente e contribuir para a motivação dos profissionais que servirá de referência para a conduta dos demais elementos.


Todos nos lembramos da frase proferida pelo sr. ministro da Administração Interna, dr. Rui Pereira aquando dos acontecimentos de Viana do Castelo, no assalto a uma ourivesaria, em 2007, louvando a actuação da PSP desse Distrito e em particular a do Agente-principal Filipe Alves: “Os polícias (de Viana do Castelo) deram o peito às balas”. De facto, foi literalmente assim. O Agente, com precaução mas sem medo, enfrentou os criminosos armados até aos dentes; depois de baleado ainda encetou perseguição, ensanguentado, começou por desfalecer, sendo posteriormente conduzido ao Hospital.


As críticas, negativas, por parte de alguns cidadãos, nomeadamente do dono da ourivesaria, foram direccionadas ao Comandante do Comando Distrital de Viana do Castelo, pela sua atitude na gestão da situação pós-ocorrência. Críticas, no meu entender, infundadas e injustas.


Mas, infelizmente, as palavras do sr. Ministro, apesar de terem sido expressivas e amplamente divulgadas, não chegaram à Direcção Nacional da PSP.


E mais uma vez os polícias confrontaram-se com uma realidade que tem feito tradição na PSP, atribui-se uma medalha ao sr. Comandante (provavelmente merecida) e esquece-se pura e simplesmente o homem que poderia ter perdido a vida no cumprimento da missão. Só gostaria de conhecer o argumento, perante factos, que vai ser apresentado pela PSP para justificar tal decisão.


A moral desta história é, sem mais nem menos, as palavras que ouvi quando cheguei à PSP e que condenei de imediato: “O melhor serviço é o que fica por fazer”. Depois deste resultado, o que se pode querer de um profissional minimamente consciente?

3 comentários:

Rui Silva disse...

O que é que haverá de comum entre este facto agora trazido, os projectos de regulamento disciplinar; continências e honras e avaliação do desempenho?
À partida, qualquer um, de forma muito natural, diz que nada, com pequenas excepções:
- tudo isto surge agora que a polícia não tem mais um civil à sua frente (isso foram tempos de heresia) mas sim é alguém da casa (com formação militar e carreira militar, diga-se), os srs. oficiais do instituto já desempenham lugares de decisão. A classe de agentes está, é e por este andar continuará a ser despida de prestígio social. A classe de chefes está praticamente extinta na sua essência (talvez fosse um incómodo ao monopólio). E tudo isto acontece numa época em que mais do que nunca a polícia precisava de dar uma resposta eficiente ao crime, não é aquela resposta do carácter científico -como se bastasse ter uns papéis em cima da secretária para se ter carácter científico, onde estão as avaliações dos programas implementados? - mas sim uma resposta transversal. Isto por si só, já dava direito a comentário próprio, pelo que vou centrar novamente no tema trazido. Análise factual, um agente cumpre honradamente a sua missão e tem direito a umas palmadinhas nas costas e o responsável do comando (não vou utilizar a designação comandante, porque para além da conotação militar, comandante tem igulamente associada a ideia de alguém que luta pelo melhor para os seus homens)tem direito a medalha. Depois de reflectir sobre a conjuntura social que atravessamos, encontrei paralelismo ao aqui noticiado no sistema bancário. Os responsáveis dos bancos, com ordenados de €10000por dia, porque atingiam os objectivos a curto prazo estipulados, são hoje os responsáveis pela grave situação económica que atravessamos. Hoje todas as vozes são unánimes em apontar como a principal causa, os objectivos traçados a curto prazo, que vieram destruir os de longo prazo. Pecado do sucesso imediato. Na PSP, como vem sendo hábito, demora-mos uns anitos a acompanhar a sociedade civil e a evoluir com esta. Receio que estejamos a cometer o mesmo erro dos gestores bancários, em que os nossos oficiais só pensem no sucesso individual e imediato e estejam a destruir o capital adquirido de muitos anos. Meus senhores, há formas bem melhores de aferir da qualidade do serviço policial, do que a simples estatística, já que esta além de perigosa, pode muitas vezes esconder o que não se quer realmente mostrar...

Anónimo disse...

O maior inimigo está dentro das nossas portas. Feliz Natal para aqueles que nos querem bem!

Anónimo disse...

Não sei a que inimigos se refere, mas que eles pontificam em todo o que é sítio,lá isso é verdade!!!!.........